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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

AVIVAMENTO EM HABACUQUE


Moisés Olímpio Ferreira



Tenho ouvido, ó SENHOR, as tuas
declarações e me sinto alarmado; aviva
a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos
anos, e, no decurso dos ano s, faze-a
conhecida; na tua ira, lembra- te da
misericórdia Habacuque 3.2.



Sobre Habacuque há poucas informações disponíveis. A própria introdução do livro
não nos fornece pistas de sua cidade natal, de sua tribo ou de sua família. Entretanto, não
podemos nos iludir: essa condição de apagamento histórico não indica distanciamento ou
indiferença do profeta em relação ao seu povo. Pelo contrário, o homem Habacuque
encontra-se inserido nas dificuldades e problemas inerentes à sua nação, em seu tempo.

Logo na abertura do livro, ele pede o final das injustiças1. Ele se mostra impaciente
diante da violência, dos crimes, das injustiças, das leis que haviam sido deturpadas, dos
direitos que haviam sido violados nas disputas e litígios em Judá. Ele viveu durante um dos
períodos mais críticos de sua nação . Após a deterioração das reformas de Josias, Judá
passou a conviver com medidas de tratamento violento de seus cidadãos, com critérios
opressores contra o necessitado, e com a ruína do sistema legal.

Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a
destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o
litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca
se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida
(1.3,4).
Ele clama a Deus ao vivenciar essa situação trágica. Ele vive e reage. Ele vê“
v.3: por que me mostras... - (certamente não era simplesmente ver, mas sentir na pele) as
opressões e, de certa forma, em oração tensa, requer de Deus uma ação urgente. Diante a
dura realidade, ele não entendia como é que Deus pódia permanecer impassível. Para ele,
Deus parecia mostra-se desinteressado: clamo e não me escutas“:

—Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei:
Violência! E não salvarás?“ (1.2).

Esse grito de revolta interior encontramos também em outras situações. Pertence
àqueles que estão boquiabertos frente às desgraças humanas:

Jó 19.7: Eis que clamo: violência! Mas não sou ouvido; grito:
socorro! Porém não há justiça.

Jeremias 20.8: Porque, sempre que falo, tenho de gritar e clamar:
Violência e destruição! Porque a palavra do SENHOR se me tornou
um opróbrio e ludíbrio todo o dia.

Como resposta, Deus convida Habacuque a olhar“, a ver“ o que está acontecendo
nas terras exteriores, nas outras nações, no panorama internacional: Vede entre as nações,
olhai... (1.5). Vendo , ele deveria compreender o que Deus já estava fazendo. Por meio do
Império Babilônico a justiça requerida seria realizada:

6 Pois eis que suscito os caldeus, nação amarga e impetuosa, que
marcham pela largura da terra, para apoderar-se de moradas que não
são suas. 7 Eles são pavorosos e terríveis, e criam eles mesmos o
seu direito e a sua dignidade. 8 Os seus cavalos são mais ligeiros do
que os leopardos, mais ferozes do que o s lobos ao anoitecer são os
seus cavaleiros que se espalham por toda parte; sim, os seus
cavaleiros chegam de longe, voam como águia que se precipita a
devorar. 9 Eles todos vêm para fazer violência; o seu rosto suspira
por seguir avante; eles reúnem os cativos como areia. 10 Eles
escarnecem dos reis; os príncipes são objeto do seu riso; riem-se de
todas as fortalezas, porque, amontoando terra, as tomam. 11 Então,
passam como passa o vento e seguem; fazem-se culpados estes cujo
poder é o seu deus
. (1.6-11).

Mas tal resposta não o satisfaz, pois implica a destruição de Jerusalém o que
efetivamente ocorreu em 587 a.C. pelo caldeus. Estes se apoderavam dos povos com
violência e destruição2 -. Ele protesta, queixa-se novamente a Deus, pois tal solução “
divina apresentada criou nele um problema de ordem ainda maior, de natureza moral.
Então, interroga Deus, afirma que embora Ele conheça os acontecimentos desastrosos
futuros, parece fingir não vê-los. Se vê, por que se cala, então? Para o profeta, o silêncio
divino depunha contra Ele:

13 Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não
podes contemplar ; por que, pois, toleras os que procedem
perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais
justo do que ele? 14 Por que fazes os homens como os peixes do
mar , como os répteis, que não têm quem os governe? (1.13-14)

Que tipo de povo era esse par a que exercesse juízo ? Poderia executá-lo? Como
Deus pode usar como instrumento de juízo um povo mais cruel e desumano do que aquele
que está sendo punido? . Para o profeta, isso não poderia acontecer.
Eram violentos, cruéis, cultuadores de seu próprio poder:

15 A todos levanta o inimigo com o anzol, pesca-os de arrastão e os
ajunta na sua rede varredoura; por isso, ele se alegra e se regozija.
16 Por isso, oferece sacrifício à sua rede e queima incenso à sua
varredoura; porque por elas enriqueceu a sua porção, e tem gordura
a sua comida. 17 Acaso, continuará, por isso, esvaziando a sua rede
e matando sem piedade os povos? (1.15-17).

O profeta se perguntava: é possível que o menos justo possa aplicar justiça ao mais
justo? Nessa pescaria“ babilônica, Habacuque questionava-se: é possível que semelhante
expedição de pescaria tenha sido organizada pelo Deus santo?3. A invasão babilônica lhe
era intolerável: a cura“ de uma invasão babilônica é pior do que a enfermidade“ do
pecado de Judá. Por isso , ele se põe atento para ouvir o que Deus tem a
dizer a respeito de suas queixas:

Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e
vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha
queixa (2.1).

Deus, então, lhe responde. Manda registrar o que dirá, pois deveria ser lida por
outras pessoas - sobre os quais se cumpriria o mesmo princípio - daquele e de outro tempo
(2.2-3). O juízo haveria de chegar, o momento da vingança contra a Babilônia estava por
vir 4:
O SENHOR me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre
tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão
ainda está para cumprir- se no tempo determinado, mas se apressa
para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente,
virá, não tardará.
Em seu cântico de agradecimento a Deus que está no capítulo 3, o profeta - tendo
em vista as obras que Deus já havia feito (da fama de juiz sobre o violento, das declarações
de destruição que fez por causa da arrogância, da injustiça, da luxúria, etc.) -
primeiramente —se sente alarmado “ (na LXX: evfobh,qhn, temi) - 3.2 -, isto é, ele reage
com sentimento de espanto diante do poder julgador de Deus ao qual também deve
submeter-se. Babilônia seria julgada, mas Judá não ficaria ileso . O julgamento próximo de
seu país, e que o atingiria, já tinha sido prenunciado em 1.5:

Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em
vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada.

Em 1. 2 o profeta pergunta: até quando? Em 1.5, Deus responde: realizo em vossos
dias... A ação julgadora de Deus se daria no momento histórico em que o profeta vivia. A
visão da injustiça seria trocada pela contemplação do ato divino ajuizador.
O juízo sobre a Babilônia ocorreu muitos anos depois em batalha contra as forças medo-persas que estavam
sob o comando de Ciro (539 a.C.).

O que Deu s realizaria? O texto diz-nos: obra tal. E a que obra se refere? do juízo
por meio do povo babilônico (1.6-11). E o caráter dessa punição está baseado na
excepcionalidade, na inacreditabilidade, no inarrável: vós não crereis, quando vos for
contada. Isso justifica que em 3.2 o profeta se mostre apavorado porque ele ouve“ as
declarações de Deus e elas, na concretização histórica no âmbito do ver“ e do sentir“ -,
são aterrorizantes.
Daí resulta a sua segunda reação: Habacuque pede a atualização, a
presentificação“ da ação poderosa de Deus. Assim como Ele agiu no passado, Habacuque
roga que assim se repita: aviva, dê vida, realiza, manifesta as Suas ações! Os atos passados
devem ser —avivados“... de modo que a obra de Deus, junto com ele próprio, possa uma
vez mais tornar-se conhecida (cf. 2.14). Essa obra de Iavé na historia está descrita nos
versículos de 3 a 15, sob aspecto de poder e julgamento ).

Mas o que é que ele está pedindo com isso? De forma direta temos: Castigue os
judeus pecadores, puna-os! Aplique a justiça sobre o seu povo para que a injustiça cesse
entre nós. Em um sentido mais específico, o verbo
aviva pode ser entendido como: ponha em operação as Suas obras, isto é, o Seu programa
exposto, para que se torne uma ação viva. É isso que para Habacuque significa: aviva,
Senhor, a tua obra.

Tais ações devem ser vistas, observadas, vivenciadas pelas gerações no decorrer dos
anos. Ele roga para que a obra tal não seja jamais esquecida: no decurso dos anos, faze-a
conhecida. Embora as implicações dessa o ração não estejam revestidas de bênção imediata
(mas de sofrimento pela correção: ele contempla uma visão terrível e teme), o profeta

reconhece que a deterioração da verdade, a deturpação dos valores, a violação dos direitos
que geram violência, crime, roubo e a permanente impunidade face às injustiças devem ser
punidos
.

AVIVA, SENHOR, A TUA OBRA! E a tua obra no texto é a manifestação do Deus-
Juiz que, tanto quanto o profeta, requer Justiça. Avivá-la é aplicá-la, é executá-la, é trazê-la
à realização histórica. O profeta que gritava, que não suportava a iniqüidade, que não era
mais capaz de ver a opressão, o afrouxamento da lei, a perversão entre seu povo era a
representação humana da voz de Deus em seu estado de ira. Os anseios do profeta eram os
de Deus.

Mas Deus destruirá seu povo? Habacuque roga: na tua ira, lembra-te da
misericórdia (3.2). O Senhor é misericordioso para com aquele que tem fé (e observemos
que ter fé nesse contexto significa viver separado das perversidades apontadas por
Habacuque; a fé está concentrada em resultados factuais da vida prática) : o justo viverá
pela fé (2.4). Não se trata de fé no campo da abstração , de um pensamento metafísico, mas
no da crença manifestada por meio de atitudes concretas.


A Babilônia chegará aos portões de Jerusalém como forma de juízo divino, mas os
medo -persas também chegarão aos portões da Babilônia para julgá- la. Quem sobreviverá?
O justo em sua fé. O profeta ouviu a resposta de Deus e satisfez-se.

O salmo de Habacuque (capítulo 3) exalta Deus por sua grandeza e mostra-O como
o grande Deus-Guerreiro que saiu de seu lugar para salvar a parte de Seu povo que
injustamente estava agredida, humilhada, indefesa. Apesar do iminente juízo, o profeta
exclama atitude de fé quanto ao futuro:

Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto
da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento ; as
ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado,
todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha
salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés
como os da corça, e me faz andar altaneiramente (3.17-19).


A partir desse contexto , podemos pensar um pouco sobre —avivamento“ no mundo
moderno . O profeta, insatisfeito com as condições morais em que vivia - reflexos das
condições espirituais do povo -, roga por justiça que se dá por meio do —avivamento“. Na
verdade, só se clama por um aquele que não se conformou com o sistema vigente. Paulo já
alertara sobre isso :

Romanos 12.2: E não vos conformeis com este século , mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

O verbo usado por Paulo, traduzido como conformeis, é suschmati,zesqe
(syskhematídzesthe), composto por su/n (syn, com) mais o verbo schmati,zw
(skhematídzo , eu assumo uma maneira de ser). Assim, o sentido da oração inteira é: não
entreis no ato de, com a presente era, assumir uma maneira de ser. Somente os que assim
decidem fazer é que se tornam insatisfeitos e rogam avivamento.


Mas não se trata de uma emoção, de um —movimento “ ou de um —mover“ no sentido
atualmente empregado no meio evangélico; nada tem a ver com alguma manifestação de
experiência mística particular; nada tem a ver com movimentação religiosa de rua, de
agitação, de carros alegóricos ou trios elétricos, com o fim de encobrir e justificar
criminosos de púlpito ou obter votos para político corrupto; não está relacionado à compra
de prédios para culto religioso, a grandes construções de torres para promoção
denominacional; à compra de grandes terreno s para benefício do senhor -Eu; não se refere à
mercantilização do evangelho, ou à prática ilícita de negociatas com o divino para
enriquecimento;
não tem a ver com a quantidade de programas —evangélicos“ ( por sinal,
horríveis) na TV, especialistas em venda de produtos e em milagres falsificados que só
enganam os incautos.

Somos constantemente convidados a fazer parte de alguma recolha de dinheiro, e os
títulos dados são bem variados: mantenedor, associado, patrocinador, contribuinte,
parceiro, devoto, sócio- contribuinte, gideão (tenho que admitir: são criativos quando o
assunto é dinheiro). Um deles oferece, em troca da oferta, a colocação do nome do
contribuinte em um —Livro de Ouro “ que, como a tocha olímpica, passará por diversas
igrejas deles para receber oração. Atingindo a ganância humana, somos convidados a fazer
parte de campanhas de prosperidade como a de Abraão“, a de Isaque“, a de Jacó “, a de
—Elias“ que me parecem mais campanhas em homenagem a —Judas, o Iscariotes“.

—Avivamento“ nada tem a ver com os vales de sal, com as campanhas de
descarrego. Nada tem a ver com a atual e ridícula movimentação chamada —apostólica“ em
que o líder é adorado e sua autoridade é papal. Em uma conferência, vi um deles com
brochas encharcadas, jogando água no povo para —abençoá-lo “; no ápice da loucura,
despejava água na cabeça do povo com baldes. Ridículo! Os discursos são todos
construídos em —chavões“ mortos, em forma de rezarias sem rosário, judaizantes e
farisaicos. Em 2006, na 4a. Conferência Apostólica vi e ouvi pela TV o cântico: Espírito,
Espírito, Espírito Santo de Deus... e o apóstolo lusitano completava: derrama sua unção
financeira! Para eles, é isso que é avivamento.

Essas formas chamadas por alguns de avivamento“ passam e, no decurso do
tempo, caem no esquecimento ou na religiosidade morta. Elas apenas são expressões de
promoção das paixões humanas.

Habacuque fala de algo duradouro, permanentemente atualizado: aviva a tua obra, ó
SENHOR, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida.

O que disso se pode afirmar é que alcançar e implantar em estado completo
(verdadeiro avivamento) a boa, agradável e perfeita vontade de Deus deve ser o alvo
primeiro do cris
tão. Se isso , entretanto, na esfera da responsabilidade humana, é cair no
projeto de natureza irrealizável, cabe-nos, então, buscar (rogar, clamar, insistir com Deus)
a manutenção permanentemente viva da ação poderosa ajuizadora de Deus no mundo. A
insatisfação causada pelos pecados da própria Igreja e da sociedade leva o verdadeiro
cristão a desejar ardentemente a manifestação constante da jus
tiça de Deus.

Desse modo, se pudermos falar em avivalista, interessa-nos não o quanto ele
domina a linguagem, ou o quanto o seu discurso tem poder persuasivo ou psicologicamente
afetador, fazendo seu auditório pular, cair, chorar, rir, sapatear, voar, desmaiar, dar
—chiliques“ (que são manifestações passageiras e fugazes e que, portanto, não satisfazem o
coração daquele que busca o avivamento que Habacuque pediu) ou vendendo Bíblias de
vitória espiritual e de bênção financeira“, que não passa de marketing capitalista de
pregadores comprometidos com seus próprios umbigos!

Na verdade, interessa- nos no avivalista o quanto ele instrumentaliza a concretização
do programa de Deus no mundo
, do reino de Deus baseado na Justiça, Paz e Alegria no
Espírito Santo (Romanos 14.17). O cristão, juntando sua voz à do profeta, deve rogar a
realização da obra divina que impõe juízo irrestrito contra o pecado (inclusive ao da Igreja)
e, ao mesmo tempo, salvação gloriosa aos que têm fé .

Deus tenha piedade de nós

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