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sábado, 19 de junho de 2010

DEUS ESCOLHE OS FAVORITOS


O Apóstolo João escreveu, no prólogo de seu evangelho:

Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.

Outra sentença, em sua primeira epístola (4:12), começa da mesma forma, mas prossegue de forma surpreendente:

Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é em nós aperfeiçoado.

É uma idéia desconcertante pensar que Deus escolheu pessoas comuns como seu canal preferido para revelar sua imagem – seu amor – ao mundo.
E assim o mundo que Deus ama pode nunca conseguir vê–Lo, porque nosso rosto impede. Há muito tempo sinto–me perturbado por um comentário de Dorothy Sayers sobre as três maiores humilhações sofridas por Deus. Para ela, a primeira humilhação foi a encarnação, quando confinou–se em um corpo físico. A segunda foi a Cruz, quando sofreu a ignomínia da morte por execução pública. A terceira é a Igreja.
Ao ler este comentário pela primeira vez, cenas da história vieram–me à memória: as cruzadas, os massacres dos judeus, as guerras da religião, a escravidão, a Ku–Klux–Klan. Todos estes movimentos alegavam ter a aprovação de Cristo (houve até um navio negreiro batizado de O Bom Navio Jesus). Mas a humilhação prossegue no século XX em lugares como a Iugoslávia, a África do Sul, o Líbano e a Irlanda do Norte, onde alguns dos piores conflitos do mundo envolvem cristãos. Ao olharmos para nós mesmos, só é preciso examinar a minha vida para ver até que ponto Deus se humilha para habitar em pessoas comuns.
É triste, mas o mundo julga o próprio Deus pelas ações dos que carregam seu nome. No poema Before a Crucifix (Antes de um Crucifixo), Charles Swinburne descreve as "bestas que se alimentam de homens" e que vagueiam em torno da árvore da fé, impedindo que outros creiam:

Embora o coração deseje e a memória anele. Não podemos louvá–lo por causa delas.

Nietzsche disse rispidamente:

Os discípulos dEle terão que parecer mais que estão salvos para que eu possa crer no Salvador.
A Igreja é, na verdade, humilhação para Deus, fazendo, por causa de sua hipocrisia, com que o mundo se afaste dEle.
* * *

Embora sejamos motivo de humilhação para Deus, também somos fonte de orgulho. Ultimamente tenho notado algumas frases fascinantes que transmitem o orgulho de Deus, até mesmo seu prazer, pelos que permanecem fiéis. Revi os textos bíblicos, procurando as características comuns a estes "favoritos" de Deus. Por exemplo: o Anjo Gabriel disse ao profeta Daniel que ele era "muito amado" no céu. Ao falar com Ezequiel (capítulo 14), o próprio Deus confirmou isto, relacionando Noé, Daniel e Jó como três de seus favoritos. Eles formam um trio interessante: um sobreviveu a uma inundação, outro à cova dos leões e o último a um holocausto pessoal de sofrimento.
Na verdade, reparei que a maioria dos favoritos de Deus atravessou um teste duro de sua fé. Abraão, chamado de "amigo de Deus", passou a maior parte de sua vida esperando, impacientemente, que Deus cumprisse Suas promessas. A Virgem Maria "achou favor diante de Deus", mas Kierkegaard, lembra–nos:

Será que alguma mulher já foi atingida pelo sofrimento como Maria, e não é verdade também que aquele a quem Deus abençoa, no mesmo instante, Ele amaldiçoa?

Em sua obra fear anel Trembling (Temor e Tremor) ele medita sobre a ansiedade, desespero e paradoxo que marcaram a vida de Maria.
É claro que a Bíblia aponta para Jesus como Aquele que dá mais orgulho a Deus. Uma voz trovejou do céu:
"Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo."
Ele, o Servo Sofredor, certamente se encaixa no padrão descrito. Foi Jesus, afinal, quem incorporou as duas outras grandes humilhações de Deus.
O mesmo padrão de fé sob fogo aparece em Hebreus 11, um capítulo que alguns chamam de "A Galeria dos Heróis da Fé". Nele o autor registra, em detalhes terríveis, as lutas que podem sobrevir às pessoas fiéis, concluindo: "Homens dos quais o mundo não era digno." Hebreus acrescenta ainda, sobre este grupo impressionante: "Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus." Para mim, esta frase inverte o sentido da afirmativa de Dorothy Sayers sobre as humilhações de Deus: sim, a Igreja já foi causa de vergonha para Ele, mas também Lhe trouxe momentos de orgulho, e os santos sofredores de Hebreus 11 mostram isso.
Os santos atingem esta condição porque se apegam, teimosamente, à convicção de que Deus merece nossa confiança, mesmo quando parece que o mundo está desabando. Os santos de Hebreus 11 colocaram suas esperanças em um país melhor, celestial, e por este motivo Deus não se envergonha de ser chamado de Deus deles. Paradoxalmente, a fé se desenvolve mais quando há incerteza e confusão: se duvida disso, leia a história da vida das pessoas que aparecem em Hebreus 11. Os favoritos de Deus, eles em especial, não estão imunes a períodos de testes. Como disse Paul Tournier: "Onde não há mais oportunidade para duvidar também não há mais oportunidade para crer."
Ao terminar meu estudo sobre os favoritos de Deus, um fato sobressaiu–se a todos os outros. Aquelas pessoas dificilmente se parecem com os santos saudáveis, prósperos e mimados que vejo apresentados nos programas religiosos na televisão. O contraste é chocante e me deixou confuso por algum tempo. Talvez seja esta a diferença: os programas na televisão precisam preocupar–se em agradar a uma audiência de milhares de pessoas, às vezes milhões. Os favoritos de Deus se dedicam a agradar a uma audiência composta por Uma só Pessoa.

Receber o mandamento de amar a Deus acima de tudo, ainda mais estando no deserto, é como receber a ordem de sentir–se bem quando se está doente, cantar de alegria quando se morre de sede, correr quando as pernas estão quebradas. Esta, porém é o primeiro e o maior dos mandamentos. Mesmo no deserto — especialmente no deserto – devemos amá–LO.
– Frederick Buechner



Philip Yancey

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