A salvação que Jesus Cristo conquistou para nós não pode ser comprada com 10% mensais de seu salário...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Feudalísmo Evangélico.



De pai para filho


*Há
muitos anos* assisti a um filme do diretor francês Regis Wargnier,
chamado “Eu Sou o Senhor do Castelo”. É um drama que conta as impressões
de um menino a partir da morte de sua mãe e sua solidão na grande
propriedade da família, onde ele vê o pai, a governanta, o filho dela e
outros personagens como invasores no que ele considera o seu espaço
particular, o “seu castelo”. Daí o título do filme. Um título bastante
intrigante.
*Corta para os dias atuais.* Local: qualquer jornal diário. O assunto: o
nepotismo.
Praga antiga, que desde a Roma Imperial vem empesteando a sociedade.
Recentemente vimos o senador Sarney enrolado para explicar o emprego de
funcionários fantasmas que por sinal eram parentes seus. Até namorado da
neta mamava no Senado sem nunca ter ido lá.
Já nos acostumamos a ver – e criticar duramente – principalmente no meio
político essa prática infeliz.
*Mas o que muitos ignoram,* ou se recusam a ver, é que esse costume
abominável chegou às nossas igrejas. Muitas igrejas têm-se desfiliado
das convenções nacionais exclusivamente com o propósito velado de adotar
essa prática nefanda.
*Muitos de vocês nem eram nascidos* nesse tempo. Há uns trinta anos ou
mais, a grande maioria das igrejas evangélicas deste país era organizada
em convenções. Havia a Convenção Batista Brasileira, chamada
“tradicional”, e sua dissidência, a Convenção Batista Nacional, chamada
“renovada”; mas ambas seguiam – e seguem – praticamente a mesma
organização e métodos (inclusive já há quem defenda a re-união, assunto
para outra postagem, em breve). Mas a Igreja Presbiteriana tem o seu
Concílio, as Assembléias de Deus têm a CGADB e a Conamad, e assim por
diante. Com algumas exceções, é claro, mas no geral as igrejas, que
então eram sérias e evangélicas, funcionavam com muita organização. Um
dos principais motivos era que dessa forma, a convenção geral ou
nacional era quem escalava e distribuía os pastores pelas igrejas,
fazendo um rodízio de tantos em tantos anos. Isso não deixava que eles
viessem a ser idolatrados pelo povo, e se tornassem donos de igrejas.
*Entretanto, há uns trinta anos,* aproximadamente, começaram a surgir
alguns movimentos estranhos. Algumas igrejas, principalmente as maiores
e mais influentes, começaram a alegar motivos esdrúxulos e começaram a
se desfiliar das convenções. Uma estranha coincidência é que nessa mesma
época aparece, a princípio timidamente, depois com mais ousadia, o
conceito de “cobertura”. Estranha por que não se pode entender que o
pastor titular exija que os membros fiquem sob sua “cobertura” – um
conceito por si só bastante discutível à luz das Escrituras – mas ao
mesmo tempo saia de debaixo da “cobertura” da denominação. Ou seja, a
“cobertura” só vale deles para baixo.
Mas tudo tem uma explicação, que nem sempre é clara, mas que com o tempo
acaba vindo à tona.
*O que aconteceu?* Aconteceu que aquele pastor se tornava “dono” da
igreja! Não tendo mais a quem prestar contas, não corria o risco de
“fazer um bom trabalho” e depois ser substituído, deixando o aprisco
para outro tomar conta. Agora ele era dono do redil; podia imprimir o
seu ritmo, o seu estilo, até mesmo a sua interpretação particular, ou,
como se tornou chavão, “a visão”.
Mas o efeito mais duradouro dessa mudança organizacional é de caráter
prático. Eu comecei há muitos anos a detectar esse movimento e o chamei,
na época, de feudalismo evangélico. Isso porque as igrejas não só
passaram a ter donos, mas também herdeiros! Os pastores, sabiamente, ao
perceberem que não durariam para sempre, trataram de cuidar da sucessão
do que agora era seu feudo particular – lembre-se, não estavam mais sob
a autoridade da convenção geral. Passou a ser o senhor do castelo, como
o garoto do filme, e todos os outros passam a ser vistos como invasores
em potencial daquele mundinho. E como todo senhor feudal que se preze, a
possessão passa para a próxima geração, mas sempre na mesma família! Uma
possessão vitalícia.
*
Senão
vejamos.* Faça uma breve pesquisa pelas maiores igrejas do país e verá
que os pastores titulares são, pela ordem, o pastor (ou bispo, apóstolo
etc.) Fulano de Tal; depois vem pastor Fulano de Tal Júnior, Fulano de
Tal Filho, Fulano de Tal Neto e por aí vai. Isso quando não tem a
pastora (ou bispa, ou apóstola etc.) Fulaninha de Tal, Beltranice de
Tal, ou Cicrânia de Tal. Mas é sempre o sobrenome “de Tal”, igual ao do
chefão.
*Talvez a única exceção* seja o “apóstolo” Doriel de Oliveira, cujo
filho é deputado em Brasília e se chama Rubens César Brunelli Júnior,
aquele mesmo da oração da propina. Opa, peraí? Se ele é filho do Doriel,
e se chama Júnior, por que seu primeiro nome não é Doriel?
(http://www.cl.df.gov.br/cldf/parlamentares/paginas/deputado-brunelli).
Eu hein... Se alguém souber o que houve, por favor, nos avise, para não
cometermos injustiças nem darmos informações incorretas.
Enfim, somente como exemplo, seguem algumas fotos para que vocês nos
ajudem com mais informações.
Outro aspecto que caracteriza o feudalismo evangélico é que, assim como
na
Europa
Medieval, muitas igrejas hoje tratam de produzir tudo aquilo de que
precisam para a própria subsistência.
*Começou com a venda de Bíblias* e livros evangélicos. Até aí, tudo bem,
nada contra. Mas logo surgiram lojinhas de bugigangas: chaveiros,
adesivos, camisetas, marcador, discos, cds, dvds, e agora até calcinha
tem. Virou um verdadeiro mercado persa. Se Jesus viesse visitar uma
igreja dessas, talvez usasse o bom e velho azorrague no recinto.
*Mas o feudo ia crescendo,* e logo se abandonou o velho hinário, pois
como ouvi um “pastor” justificar tal assassinato, “a linguagem é
arcaica, ultrapassada; o pessoal não entende”. Com isso, foram
suprimindo os hinos e aumentando o uso dos “corinhos” – que também
acabaram desaparecendo
com
a adoção das músicas de cds dos “levitas”. De preferência os oriundos do
próprio “ministério”. Os que têm mais recursos até se tornam conhecidos
fora das fronteiras, e são cantados nos feudos vizinhos; com o advento
da Internet, até em feudos distantes. De feudo para feudo. E nesse meio
tempo, um estudiozinho para produzir as próprias músicas. Em si, isso
não é ruim. O que não é bom é que o
custo
da produção cai, mas o preço final não... Um cd custa menos que R$5 para
ser produzido, mas vai ver o preço da venda. Se fosse para o Reino de
Deus, até daria pra engolir, mas é para o Feudo.
*Edição de livros,* a mesma coisa. O pastor escreve uma coisinha aqui,
outra ali, daqui a pouco a igreja tem sua própria editora. Mesma coisa
do estúdio, baixam-se os custos de produção, mas não o preço da venda.
Mentalidade empresarial, ora, dirão os modernos.
*
Depois,
surgiu outro malefício,* o seminário próprio. Primeiro, um cursinho
básico de especialização, de aprofundamento. Depois, com o crescimento
natural da freguesia, acaba virando um “seminário” ao gosto do patrão,
onde são enfatizadas as doutrinas que o senhor do castelo mais preza:
prosperidade, exorcismo, regressão mental, batalha espiritual...
raramente missões e evangelismo. Mais uma vez peço que você faça uma
pesquisa, como eu fiz, e dê uma olhada nas matérias oferecidas. Compare
com um seminário sério, um que seja reconhecido pelo MEC há mais de 30
anos, por exemplo.
*Outras comparações* podem ser feitas com o feudalismo, como por
exemplo, a fragmentação da unidade anterior e a auto-suficiência de cada
feudo;
a palavra do senhor do castelo é a lei suprema; a administração da
justiça própria àqueles considerados dissidentes; a formação de um
cordão de puxa-sacos e parasitas; uma tropa de choque para cegamente
defender o senhor a qualquer custo etc.
Mas, para não alongar demais a conversa, e por falar em livros, vamos
terminar tratando de mídia.
*É sem dúvida* muito importante o uso da mídia, em todas as suas
possibilidades, para a evangelização, missões, edificação pela pregação
da Palavra de Deus. Sou totalmente a favor do rádio, da TV, do cinema,
dos jornais, livros, folhetos, revistas. Internet, blogs, e-mail (sem
/spam/, por favor), twitter, torpedos, e o que mais ainda for inventado.
O que eu sou contra é o uso dessas ferramentas para promoção própria,
enriquecimento
pessoal e/ou divulgação de doutrinas particulares! Igrejas com canais de
TV? Isso era o sonho de toda uma geração de cristãos bíblicos! Resta ver
se o conteúdo presta. Programas de culinária (*ao lado*)? Programas de
moda? Transmissão ao vivo de /raves gospel/? E isso é o que vemos hoje
em canais ditos “cristãos”. Mais uma vez, felizmente, com honrosas, mas
poucas, exceções. E quando a mídia resulta mais em glorificação do feudo
e do senhor do castelo do que de Deus, aí podemos de fato desconfiar de
que quem manda é o senhor feudal, com vistas à perpetuação do seu poder.
E de sua dinastia, *PER OMNIA SAECVLA SAECVLORVM*.


Depois, quando o pessoal diz que há uma mentalidade medieval permeando
certos rincões do cristianismo atual, tem gente que reclama.


http://doa-a-quem-doer.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar. Se você vai escrever um insulto obrigado tambem. Se nós lhe ofendemos, desculpe, é para o seu próprio bem. Quem sabe assim acorda antes que seja tarde demais!